terça-feira, 6 de setembro de 2011

PIPA


Por: Felipe W. P. de Oliveira

Ainda me lembro do vento que a soprava, do fio que a carregava, da mão que a segurava no começo do barbante rezando para que ela não fosse cortada, para que outra não passasse e a fizesse ir embora. Era maravilhoso esperar a chegada de uma data só pra vê-la voar e como voava bem! Era um brinquedo bem melhor do que peão ou até mesmo ioiô. Como era bom correr atrás dela, em disputar no meio de muitos um pouquinho da diversão que ela oferecia. E quando ela se aproximava do chão, era uma confusão, às vezes um ficava com um pedaço e outro alguém com a metade e daí o sorriso vinha e se estampava no rosto e os olhos voltavam-se novamente a se focar para o céu. Como era bom de ver aquela briga de linhas entre a luz do sol e as pequenas nuvens de chuva que o mês de férias oferecia que pareciam mais como briga de espadas e a cada ranger de cordas era uma expectativa em correr ou em gritar, “auvaiê”! Que coisa boa! Não sabíamos de onde vinha tanta energia, que supria a nossa fome e saciava a nossa sede, mas sabíamos que era ali que queríamos estar, sem preocupações, sem regras, sem medo, era só a mais pura e maravilhosa diversão. Cada amanhecer era uma felicidade diferente, não importava se durava apenas um mês ou se o dia tinha algumas horinhas de duração, o que importava era calibrar a linha com o maior teor de “cerol” possível, não para tirar uma lasca do dedo, mas para ver quando a linha passava em outra linha menos afortunada, e daí poder apreciar aquela dança desgovernada no ar que não importava aonde iria cair, mas até aonde poderia chegar! Hoje para nós que crescemos, acho que cada um desses sacos e sedas que se foram, levaram um pouco daquela nossa meninice e nos deixaram lembranças maravilhosas que nos fazem pensar em como o tempo passa rápido. Era uma época boa, das melhores possíveis, porque ali existia felicidade, não importava aonde e nem como, não importava o corte no dedo ou a areia nos olhos, não importava se era menino ou menina o que importava era a alegria em ver o vento trabalhar e quando ele não aparecia, porque não assoviar, não era mesmo? Enfim, não quero dizer “que tempo bom, que não volta nunca mais”, pois esse tempo ainda pode ser resgatado, seja com os nossos filhos, com os nossos netos ou sozinho, deixando as responsabilidades de lado e voltar a ser criança por algumas horinhas. O que faz doer não são as lembranças que ficaram para trás, mas sim a dor de pensar que nunca se pôde aproveitar ou viver tudo isso e se não pôde, aproveite agora, enrole-se em sacos e sedas e faça essa criança que ainda à dentro de você por algum momento... Feliz!

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