Por: Felipe Wellington P. de Oliveira
Caro amigo... Estou
aqui para compartilhar um pouquinho da minha vida com você. Você não me
conhece, quer dizer, você não sabe quem eu sou, não pessoalmente, pois nunca
fomos apresentados formalmente, porém, creio que você já tenha ouvido falar de
mim por ai. Eu estou sempre aparecendo nos jornais e na maioria das vezes pessoal,
falam muito de mim nesses jornais. Minha fama percorre por muitas cidades e até
mesmo mundo a fora. Sou tão conhecida que às vezes sou capa de revistas e
também sou pauta principal de muitos telejornais, sejam eles nacionais ou
internacionais. Mas com toda essa minha fama percorrendo por esse mundão a fora,
não há quem ouça a minha voz! Muito prazer, eu me chamo “aliciada”, mas podem me
chamar também de “abusada sexualmente”!
Eu sou aquela que
sempre quando vou dormir, já tem alguém me esperando no meio da noite para me
contar alguns “Era uma vez”, mas sem nenhum final feliz! Eu sou aquela que
grita em voz baixa, pois sou ameaçada constantemente pelo meu aliciador. Sou
aquela que ora para que aquele que um dia jurou me proteger e me manter segura
fosse embora do meu quarto. Eu sou aquela que conta para mãe o que acontece
comigo dentro de casa quando ela sai pra trabalhar e também sou aquela que
apanha por “inventar mentiras”. Eu também sou aquela que ainda brinca de
bonecas e que sonha em sair de casa para não mais ser tocada ou estuprada por
quem quer que seja. Eu sou aquela que confiava e hoje sou aquela que não sabe
mais o que a palavra confiar significa. Eu sou aquela que clama por socorro e
ao invés de eu ser socorrida, sou chamada de “menina atrevida”, e olha que eu
nem sei o que quer dizer essa palavra atrevida! Eu sou aquela que ouve o meu
próprio aliciador dizer que não teve a culpa em me tocar, pois a culpa era
minha em provocá-lo. Minha culpa? Acho que era por causa das minhas bonecas de
plástico com roupas de princesas ou por causa das minhas roupas tamanho sete,
estilo filinha da mamãe. Eu sou aquela pessoal que sente muitas dores e que
fica olhando pela janela de casa as crianças brincando na rua, pois não tenho
forças para brincar de pega-pega com as minhas amiguinhas, as minhas pernas
doem, elas doem demais! E eu sou aquela que pergunta, por que as pessoas fazem
isso e por que deixam fazerem isso comigo, eu sou apenas uma criança, por quê?
Eu não entendo!
Queridos pais, acordem
e passem a escutar mais os seus filhos, pois fora ou até mesmo dentro de suas
casas, eles gritam por socorro em silêncio. Perguntem o que acontece com eles
quando vocês saem de casa para trabalhar, quando vocês deixam tomando conta dos
seus filhos, tios, primos e às vezes vizinhas de “confiança”, pois acreditem,
por trás de uma mulher ingênua existe um homem imoral e monstruoso. Vocês precisam
entender que não sabemos nos defender sozinhos e que precisamos demais dos seus
cuidados, e não dos seus “carinhos” maldosos onde possamos vir a ser no futuro crianças
completamente perturbadas emocionalmente, psicologicamente e fisicamente. E
também quero com todo o amor que ainda tenho no meu coração, quero dizer que
apesar de tudo isso que venho passando, sei que sou Preciosa para o meu papai
do Céu, que sou preciosa para os Seus planos em minha vida e sei também que sou
preciosa para os meus pais, pois apesar de tudo que venho passando, de todas as
minhas dores e medos de ir dormir a noite, acredito que eles não sabem o que
fazem e que me amam de verdade e que também um dia irão enxergar os erros que cometem
contra mim e ai, quem sabe um dia, eles me compram aquela boneca que eu tanto
queria, eles sabem qual é, é aquela que fala e anda sozinha!
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